segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

"Não se constrói o Futuro enterrando a História"



Com essa frase estampada logo na frente do último carro alegórico da Viradouro, o carnavalesco Paulo Barros pôs um fim a polêmica sobre o carro "O Holocausto", que foi vetado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a pedido da Federação Israelita da mesma cidade. Paulo Barros não foi o primeiro carnavalesco a ser censurado no carnaval carioca. Joãosinho Trinta, no carnaval de 1989, foi proibido de levar para a avenida o Cristo Redentor vestido de mendigo, tema emblemático do carnavalesco, que cobriu seu carro alegórico com plástico preto e uma enorme faixa onde se lia "Mesmo censurado, Rogai por nós". Fantástico.

O carnavalesco da Viradouro teve que desmontar seu carro alegórico na quinta-feira, data da liminar da Justiça, somente comentando que daria tempo de refazê-lo (somente três dias antes do desfile oficial).

A Federação Israelita do Rio de Janeiro conseguiu nesta quinta-feira uma liminar que proíbe o carro alegório da Viradouro que exibiria um figurante fantasiado de Hitler e alegorias representando corpos de judeus mortos no desfile da Viradouro.

"Comemoramos a decisão. Não poderíamos permitir uma pessoa representando Hitler vivo acima dos corpos de judeus mortos", informou a assessoria de imprensa da Federação.

A liminar foi concedida pela juíza de plantão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Juliana Kalichsztein. Em comunicado oficial, a Federação afirmou que não permitirá que haja a banalização do Holocausto, nem o desrespeito à memória de suas vítimas.
Síntese do Despacho
"Um evento de tal magnitude apesar de, em sua essência, pretender passar alegria, descontração e alertar a população sobre fatos importantes que ocorreram e ocorrem através dos anos, não deve ser utilizado como ferramenta de culto ao ódio, qualquer forma de racismo, além da clara banalização dos eventos bárbaros e injustificados praticados contra as minorias, especialmente cerca de seis milhões de judeus (diga-se, muitos ainda vivos), e liderados por figura execrável chamada Adolf Hitler". (Juíza Juliana Kalichsztein)

Depoimentos:

"Eu não censuraria nenhum tipo de arte, mas não me parece ser de bom gosto. Acho que não deveriam ser colocadas coisas que não abrilhantam o Carnaval, que é um momento de alegria. Eu acho que eles (os carnavalescos) deveriam se limitar a coisas positivas, deixando tragédias de lado". (Rubem Medina - Secretário Municipal de Turismo do Rio de Janeiro)
"O carnavalesco Paulo Barros demonstrou insensibilidade. O fato de tentar planejar este carro mostra que não houve outra preocupação além da estética".(Sérgio Niskier - Presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro - Fierj)
"Achamos importante o tema do Holocausto ser tocado em qualquer lugar, mas misturar com Carnaval é inadequado". (Rafael Singer - Primeiro Secretário de Israel)
"Não digo que foi uma censura, mas a nossa intenção foi cerceada, de certa forma".(Marco Lira - Presidente da Viradouro)
"É absolutamente justo. Essa é uma marca muito forte, devastadora na história da humanidade. Aquele foi um episódio que atingiu milhões de almas, não pode ser tratado de maneira superficial em uma festividade frívola como o Carnaval".(Dom Filippo Santoro - Bispo de Petrópolis/ RJ)
"A coisa foi feita como forma de alerta para que uma tragédia como a que aconteceu não se repita. A coisa está sendo divulgada como se fosse um ato agressivo de minha parte. Na verdade, a liberação do Abre-Alas no site da LIESA, acabou fazendo com que tivessem uma interpretação errada da alegoria. O Corintho, que desfilaria no carro representando Hitler, iria fazer uma interpretação de culpa pelo massacre. Eu lamento que as pessoas prefiram fechar os olhos para um fato histórico da gravidade do Holocausto e tenham preferido banalizar o alerta que eu tinha preparado para mostrar no desfile da Viradouro". (Paulo Barros - carnavalesco da Viradouro)
"A Viradouro subverte a tristeza e desnuda o horror da intolerância. O cerceamento da liberdade de expressão é o terreno mais fértil para que proliferem a violência, o desrespeito, a brutalidade, o extermínio".(Nota Oficial divulgada à imprensa pela Escola de Samba Viradouro, assinada por Paulo Barros)

E Viva a "Liberdade de Expressão" de nosso "Democrático" País.
Foto 01: Carlos Moraes/O DIA
Foto 02: André Müzell/ Futura Press

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Imagens: Denis Sarges e Rafael Souza